sábado, 24 de janeiro de 2015

EVOÉ, EVO. EVO É


Compus esse haikai em homenagem ao índio aimará que emplaca o seu terceiro mandato na nação andina.

Sobre terceiro mandato vou logo adiantando. FHC e toda a turma bicuda e emplumada apoiaram o terceiro mandato de Fujimori, o japonês amigo de FHC que iria "civilizar" os peruanos.

Mas apenas montou um império particular e criminoso, roubou, ordenou assassinatos, fez o diabo e acabou preso.

Ponto parágrafo. Voltemos a Evo III.

Evo foi ridicularizado, desde o primeiro dia de seu primeiro mandato, pelos barões da mídia brasileira, por meio de seus ventríloquos. Dia e noite se falava em Evo, que o índio não usava gravata, que era um cocaleiro, que deu uma joelhada em um companheiro durante uma partida de futebol, que iria nacionalizar a Petrobrás e expulsar a Coca-cola.

Factóides e futilidades.

Lembro quando José Serra se candidatou à presidência da Transilvânia. Escolheu como inimigo internacional o índio cocaleiro. Dizia que Evo fazia corpo mole ao tráfico e que sua nação era, na verdade, uma narcocracia.

Serra então, fuzilou, garantiu que fecharia nossas fronteiras e aqui não entraria mais cocaína.

Só que Serra tá careca de saber que mesmo tendo o maior poder bélico e a maior contingente militar do planeta, os Estados Unidos são o destino mais seguro para o tráfico de coca.

Os Esteites, Serra o sabe, consomem a metade da cocaína produzida no mundo. Seriam eles parceiros de Evo nessa narco-geopolítica?

Serra não mentia a si mesmo que seria mais eficiente que os Esteites, ele apenas dava uma prova do seu valente viralatismo, pois falava grosso com a Bolívia e fino com os Estados Unidos.

O fato é que lendo os nossos jornalões, nada sabemos sobre os êxitos de Evo.

Todos nos lembramos, o mundo inteiro aplaudiu a chegada do primeiro negro à presidência dos Estados Unidos. O mundo aplaude tudo dos Esteites, até drones que matam crianças.

No entanto, não houve o mesmo entusiasmo com o pioneirismo de Evo, o primeiro indígena a presidir uma nação nas Américas. Legitimamente eleito e reeleito.

Com Evo, a Bolívia se desenvolve como nunca. Hoje tem uma dívida externa muito pequena e grandes reservas internacionais, equivalentes à metade de seu PIB. O país cresce mais que as nações vizinhas.

Foi por isso que Jô Soares deu aquelas chineladas nas ventríloquas da mídia velha, afirmando que com Evo Morales a Bolívia ia muito bem obrigado.

Com um pouco mais de 10 milhões de habitantes, a Bolívia já tirou mais de 30% da população da pobreza nos últimos 8 anos. O país andino é líder em inclusão social no continente.

Morales já pediu apoio ao Papa argentino na sua luta por conseguir, de volta, o território que lhe dá saída para o mar e para um futuro ainda mais promissor.

O cocaleiro Evo é, sim, a favor do cultivo da coca porque é uma planta ancestral, portanto ligada a questões atávicas de seu povo. É uma planta sagrada.

A folha da coca, embora catalogada como veneno pelas Nações Unidas, é usada no fabrico de cosméticos, na maceração para unguentos e na produção de diversos tipos de alimentos.

A folha tem ainda os efeitos cicatrizante, anestésico e redutor de apetite.

O Papa Leão XIII tomava, e muito, o vinho Mariani, bebida feita com uma grande concentração de coca. Doutor Freud comprava cocaína livremente em Viena. A coca é um tabu há pouco tempo, só foi proibida em 1961.

Evo quer industrializar a coca e dar a ela um novo mercado, uma forma eficiente e saudável de movimentar a economia do país e retirar o estigma maldito da planta, ele disse certa vez para a BBC: "se a Coca-cola pode usar folhas de coca, porque nós não podemos".

Evo está interessado na história do seu povo e da sua gente. A Constituição Boliviana estabelece que a Bolívia é um Estado Plurinacional Constituído por 36 Nações Originais de Camponeses Indígenas.

O que tem Evo a ver com o fato de os estadunidenses não conseguirem se divertir sem a cocaína? E nem impedir que ela seja vendida em seu país?

Os estadunidenses já produziram um energético da marca Cocaine, escrita com uma fonte pó de giz! A tara por cocaína na terra do Tio San é tanta que eles têm até um ator com o nome de Michael Caine.

É bom que os valentes transilvânicos não se esqueçam, a coca é uma folha. A cocaína é uma droga química. E hoje se utiliza cada vez menos folhas para se conseguir cada vez mais cocaína, através de um processo de otimização de produtos químicos.

Para se fabricar toneladas e toneladas de cocaína, há que se produzir toneladas e mais toneladas de fármacos. Ácido Sulfúrico, acetona, diesel, carbonato de sódio, permanganato de potássio e gasolina.

Todos nós sabemos, e os transilvânicos também o sabem, que essas coisas não nascem em árvores andinas; toneladas e mais toneladas.

Quem as fornece?

Palavra da salvação.

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