quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

NORDESTE, O BRASIL DOS VENCEDORES

Por
Delúbio Soares (*)

O Nordeste brasileiro serviu durante muitíssimo tempo para a manutenção de uma estrutura social cruel, uma distribuição de renda injusta, a deplorável “indústria da seca”, além do constante fortalecimento de oligarquias medievais responsáveis pelo atraso secular da região.

Visto com os olhares preconceituosos de um sul “maravilha”, rico e esnobe, o Nordeste era bom provedor de mão-de-obra barata, lugar longínquo e dotado de praias atrativas e pessoas cordatas. Ou muito pouco mais que isso.

A elite do sudeste e do sul - arraigada em seus preconceitos, reconhecidamente mesquinha e nada disposta a integrar o Brasil ou aceitar as peculiaridades regionais, as identidades culturais de cada Estado da Federação e a valorizar os nossos milhões de irmãos da Bahia ao Maranhão – se esmerou em manter a situação dramática de desigualdade e pobreza. Teve, nesse mister tenebroso, o auxílio luxuoso de chefetes políticos provincianos e das oligarquias econômicas e sociais dos rincões nordestinos.

Josué de Castro, uma das grandes figuras de nossa história, retratou em todo o seu vasto e profundo trabalho, especialmente na insuperável “Geografia da Fome”, a realidade abjeta de uma região potencialmente rica e futurosa onde milhões de pessoas morreram vítimas da fome ao longo dos anos, tão vitimadas pela seca inclemente quanto pela estrutura social perversa. E as crianças mortas no ápice das secas, enterradas com “anjinhos” pelas sofridas família, eram – isso, sim - o mais pronto e acabado retrato de um Brasil miserável e perdedor.

O Brasil opulento e supostamente desenvolvido do Sudeste/Sul, com sua cultura colonizada pelas grandes Nações ricas do hemisfério norte, aceitou como realidade consumada (rejubilando-se, até) as levas de milhões de irmãos nordestinos, transportados desumanamente nos tristemente históricos caminhões “pau-de-arara”. Esse autêntico gado humano, recrutado para os afazeres mais duros e primários, sem saúde ou instrução, tornou-se a mão-de-obra vigorosa que levantou edifícios e construiu cidades, prestou bom serviço e retribuiu com lealdade e honradez a paga escassa que lhes destinou o Brasil rico de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e outros Estados. Foi essa gente boa e explorada, longe de sua terra e de suas famílias, que se tornou a base sólida da transformação econômica do Brasil nos últimos 60 anos.

A asa branca batendo asas e voando para longe de um sertão calcinado pela seca ou a fé inquebrantável no apadrinhamento do Padre Cícero, foram mais visíveis na dura realidade do Nordeste do que a mão forte dos poderes públicos em socorro da região e seu povo. Uma pena.

Enquanto a diáspora sertaneja aumentava a olhos vistos com a concentração de milhões de baianos, cearenses, pernambucanos, potiguares, sergipanos, alagoanos, piauienses, paraibanos e maranhenses nas periferias da grandes metrópoles do Sul, com habitação deficiente e condições de vida sub-humanas, a oligarquia nordestina enriquecia, formando grupos de comunicação, indústrias têxteis e alimentícias, bancos e financeiras, explorando a indústria das secas e mamando nas tetas gordas do aparato estatal.

Quando na década de 60, em seu curto e digno governo, o presidente João Goulart encarregou o brilhante economista Celso Furtado de idealizar um organismo forte de fomento econômico e social para o Nordeste, a Sudene nascia como a primeira grande iniciativa de evolução, apoio e reconhecimento à região e seu extraordinário povo. Definiu-se uma política realista e específica para a vasta região que se inicia no árido Norte/Nordeste de Minas Gerais, englobando o desassistido Vale do Jequitinhonha, até os vales úmidos do Maranhão. Mobilizaram-se recursos e mentes, repensando e formulando propostas exequíveis e ações concretas para que o Nordeste superasse a miséria e a fome.

Muito se fez, mas ainda foi pouco diante de tanta pobreza, tanto abuso e dos enormes problemas encontrados. O golpe de 64 não só liquidou as lideranças populares e progressistas da região, como desmoralizou a Sudene, transformando-a em banca de financiamento à projetos tocados pelas oligarquias locais, que se chafurdaram no dinheiro barato e farto. Ficaram mais ricos e o Nordeste e seu povo ficaram mais pobres ainda. Se quisermos sintetizar em poucas palavras tanto o que os sucessivos governos da ditadura militar quanto o de FHC e dos tucanos, tão elitistas e anti-Nordeste, fizeram com a Sudene e com os sonhos dos nossos irmãos nordestinos, podemos dizer que foram absolutamente cruéis.

Foi com Lula, nascido no coração do Nordeste e que chegou ao Sul na carroceria de um caminhão pau-de-arara com sua mãe e seus irmãos - e continua com Dilma – que o Nordeste reassumiu seu sonho plenamente possível de redenção econômica e de igualdade social. Com a retomada do crescimento, o Nordeste mostrou a que veio no cenário de um novo e promissor Brasil, apresentando índices surpreendentes de crescimento em todos os seus Estados, e em alguns casos, como o de Pernambuco, por exemplo, chegando a mais de 16% ao ano.

Não houve milagre, houve trabalho. Trabalho lastreado em firme decisão política do presidente Lula e no apoio absoluto do povo nordestino, que superou grande parte de seus dramas e tem participado ativamente da construção de um país melhor e mais justo.

Iniciativas de toda ordem, que começaram com o programa de assistência às famílias, que – para terror de madames da elite paulistana e de colunistas da imprensa golpista – passaram a comer três vezes ao dia, com os filhos na escola e, enfim, com emprego e a possibilidade de revolucionar suas vidas. Essa potencialização do Nordeste continua com o incentivo ao turismo, com obras contra as secas, de saneamento básico, da construção de milhares de casas populares, hospitais, pontes, novas estradas e rodovias, além da obra monumental da Ferrovia Leste-Oeste.

Os governos do PT e dos partidos da base aliada tem demonstrado imensa sensibilidade para com o Nordeste e os nordestinos. Nada fazem, em verdade, mais do que reconhecer os direitos negados ao longo do tempo a uma região rica e a seu povo, extremamente trabalhador e talentoso.

O preconceito de uma elite perversa e preconceituosa tentou fazer do Nordeste um Brasil dos coitadinhos. A força dos nordestinos, aqueles que antes de tudo são uns fortes, tem feito da região o Brasil dos vencedores.

Publicação, blog Construindo um Novo Maranhão. Clique aqui.

(*) Delúbio Soares é professorwww.delubio.com.br
www.twitter.com/delubiosoares
www.facebook.com/delubiosoares
companheirodelubio@gmail.com





3 comentários:

Anônimo disse...

Se esse DELUBIO é aquele de Goiânia, Ex tesoureiro nacional do PT, que ha pouco tempo as TVs do Brasil mostravam ha todo momento sua cara, junto a Zé Dirceu e outros mais, acusando-os de lavagem de dinheiro, caixa dois, corrupção e tantos outros malefícios à Nação, é dificil acreditar que este conceituado BLOG possa lhe tecer algum tipo de elogio.

Abel disse...

Obrigado anônimo pelo comentário. De fato você terce bem o comentário acima, descrevendo que Delúbio foi acusado, denunciado de lavagem de dinheiro, caixa dois, corrupção, enfim, apenas denúncias e acusações, e talvez uma condenação por capricho da mídia ou de um grupo de juízes tão corruptos o quanto afirma ser Delúbio, porém, a mensagem acima, descrita , reflete a essência de um Brasil que segue em frente para se tornar um grande VENCEDOR.

Anônimo disse...

Parabéns Professor, por esta belíssima reprodução. Eu como Nordestino, que inclusive morei em São Paulo por 5 anos, pude ver de perto como o povo 'sulista' é preconceituoso como o nosso querido Nordeste, e que em boa parte torcem pelo nosso fracasso - ainda mais nesse período de bonança crescente. Cabe a nós, retribuirmos o preconceito, que sofremos a décadas, não com as mesmas armas, e sim, com trabalho e fé, contribuindo assim, para o crescimento cada vez mais pujante do NE. Vamos mostrar aos 'sulistas' a nossa maior arma, qual seja, a SOLIDARIEDADE - o pão da sabedoria pode ser dividido com todos os irmãos. IGOR GOMES.

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