quarta-feira, 5 de novembro de 2014

PSDB e PT fazem a guerra. Quem perde é você

Ex-candidato tucano Aécio Neves fala em "grande exército a favor do Brasil"; em retribuição, página do PT no Face convoca: "Militância, às armas!"; mesmo que em sentido figurado, radicalização É respondida com radicalização; num país de frágil tradição democrática como o Brasil, discursos belicosos ao inconsciente coletivo sempre serviram a interesses antipopulares; onde essa brincadeira com fogo entre os dois principais partidos políticos do Brasil vai parar?; em 1964, UDN versus PTB deu no que deu


PSDB e PT estão brincando com fogo – e quem pode sair queimada é a democracia brasileira. Depois de um show eleitoral que eletrizou o País, repleto de surpresas, viradas e uma disputa voto a voto que resultou sim numa vitória apertada, mas limpa e legítima, a reeleição da presidente Dilma Rousseff vai sendo questionada de maneira perigosa. Não apenas, igualmente vai sendo defendida de um modo bastante arriscado.

Na terça-feira 4, enquanto o ex-candidato tucano falou em chamar para o seus domínios um "grande exército a favor do Brasil", a resposta do comando petista foi um panfleto eletrônico, via Facebook, no qual se convoca: "Militância, às armas!". Tudo no sentido figurado, mas essas são as palavras que atingirão o público. Nessa batida, que se dá antes mesmo de serem completadas duas semanas do final da campanha eleitoral, onde se quer chegar?

Tanto na recusa ao diálogo com o governo, posição professada do ex-presidente Fernando Henrique ao ex-candidato a vice Aloysio Nunes, como na dificuldade da cúpula do PT em se posicionar além e acima dessas provocações de viés estudantil – logo um partido que venceu uma, duas, três e quatro eleições presidenciais seguidas – mora o perigo. No meio destes opostos, corre solta uma nova direita de cunho golpista, que já demonstrou a capacidade de ocupar a maior avenida de São Paulo, no sábado 1, sem ser incomodada.

SÓ POR HIPÓTESE - O risco não é pequeno. Tome-se a hipótese, neste vácuo de diálogo entre os partidos envolvidos diretamente na peleja, de um ato qualquer de violência. O que pode acontecer? Neste momento, caso o "exército" a que Aécio se referiu se depare nas ruas com "as armas" da militância petista, o que haveria com quem apenas e simplesmente foi às urnas escolher o candidato que considerou mais preparado para dirigir o País?

Em 1964, a resposta para os movimentos de desestabilização ao presidente João Goulart, a partir da renúncia embriagada do titular Jânio Quadros, em 1961, resultou numa ditadura de matou, torturou e reinou pelos seguinte 21 anos. As promessas de limpeza da corrupção, saneamento dos partidos, eleições presidenciais logo em seguida emprestaram até mesmo uma certa legitimidade, de um ponto de vista à direita, ao golpe militar – de resto imediatamente ratificado pelo Congresso, que declarou vago o cargo de presidente da República.

Exagero? Em termos. Alertar agora sobre o que pode acontecer quando se mexe no inconsciente coletivo com o uso de imagens belicosas – repita-se, exército, armas etc. – é apenas ser responsável.

A sociedade brasileira cresceu, se desenvolveu e é hoje, sem dúvida, muito mais complexa do que a daqueles tempos. Porém, ainda é a sociedade brasileira, nitidamente dividida em classes de interesses conflitantes e ideologias díspares. Um fósforo aceso ainda pode, da mesma maneira que ontem, causar uma fogueira, e mais uma e mais outra até provocar um grande incêndio.

É de se admirar, negativamente, que chefes partidários experientes como são os do PSDB admitam o confronto permanente com a presidente reeleita, como se revela em todas, sem exceção, manifestações de quadros como os próprios Aécio e FHC, além de Goldman, Nunes e outros menos famosos.

Note-se: o senador eleito José Serra, que assim como eles sofreu com a ruptura democrática, mas, mais que eles, foi perseguido de morte logo após o abril de 64, não entrou nessa vibe, como diz a juventude que frequenta as baladas. Está quieto, certamente não gostando nada nada do que está ouvindo.

Igualmente é de se espantar que o comando do PT tome para si a mesma retórica da guerra, ao chamar a militância às armas, quando até o vão livre do Masp sabe que quem sempre sempre perde nessa disputa é a esquerda.

Note-se 2: Lula, que cresceu como sindicalista debaixo da ditadura grossa, é outro que está na moita sobre esse tema, certamente guardando para si o crédito de agir, se necessário for, como bombeiro – e não como incendiário - se o fogo pegar.

CANOA FURADA - No dia 15, os cerca de 2,5 mil manifestantes que tomaram no dia 1 a avenida Paulista com um passeata repleta de discursos antidemocráticos, outra vez prometem sair às ruas. E acreditam que serão mais. Se a moda avança, quem vai segurar a fúria da massa?

O comando PT está mostrando que ainda sofre de falta de maturidade, ao querer medir forças com o PSDB no terreno proposto pelo adversário, que é o da confusão, o do "grande exército". Nas portas das muitas sedes que o partido tem em todo o País, valeria colocar um aviso de que, sim, o PT ganhou as eleições – e por isso mesmo é o mais interessado, em lugar de fazer a guerra dos provocadores, na promoção da paz.

Com essa maneira de chamar militantes às armas, ainda que em sentido figurado, como fez Aécio com seu exército, o partido embarca direitinho na canoa furada que os tucanos lhe oferecem. Vai chegar bem longe nela, ô se vai...

FOTE: 247BRASIL

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